Certamente todo mundo conhece uma biblioteca onde milhares de livros são armazenados e organizados de acordo com uma catalogação.

Mas você sabia que assim como há esses espaços voltados para os livros, também há lugares que armazenam e catalogam diferentes espécies de madeira? 

Conheça a xiloteca

Conhecidos como xiloteca, esses espaços preservam uma coleção botânica composta por diversas amostras de madeiras coletadas, catalogadas e conservadas. A palavra xiloteca tem origem grega, onde xylon significa madeira e teca significa coleção.

Portanto, xiloteca é uma coleção de madeiras que disponibiliza amostras de diferentes espécies como padrão para a identificação botânica e pesquisas/estudos diversos, atendendo necessidades de botânicos, tecnologistas, marceneiros, arquitetos, designers e todos aqueles que fazem uso desse material.

Maria José Miranda, pesquisadora do Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) explica que o processo de catalogar espécies de madeira envolve diversas etapas.

“Para começar, as amostras de madeira são doadas por instituições de pesquisa ou por pesquisadores que atuam na área da botânica e devem possuir informações completas como nome científico, nome popular, autor, família, local de coleta, nome e número do coletor, nome do remetente, número da exsicata armazenada no herbário, entre outras”, elucida a pesquisadora. 

O que é uma Xiloteca - Xiloteca IPT .png

“Depois da amostra ser doada, ela passa por uma avaliação do curador do acervo que define se ela será ou não incluída na coleção”, continua Maria José.

“Caso ela seja aprovada, as informações são inseridas em nosso banco de dados”, enfatiza a pesquisadora, acrescentando que depois disso as amostras recebem um número de registro e são armazenadas nas gavetas relacionadas a suas respectivas espécies, gênero ou família.

Com o material existente nas xilotecas é possível a realização de análises anatômicas para auxiliar estudos taxonômicos, ecológicos e de identificação botânica

Além disso, a identificação por meio da anatomia do lenho é uma ferramenta reconhecida e muito utilizada, principalmente, quando não há disponibilidade de material vegetativo ou reprodutivo, como nos casos de operações de controle e fiscalização executadas pelos órgãos ambientais no comércio madeireiro, do monitoramento de planos de manejo e do controle do desmatamento ilegal.

“Adicionalmente as xilotecas também podem contribuir com material para pesquisas em áreas como taxonomia, arqueologia, antropologia, legislação, tecnologia da madeira e dendrocronologia”, destaca Maria José. 

Outra funcionalidade desses espaços é para auxiliar no trabalho de arquitetos, marceneiros e fabricantes de móveis em geral que podem acessar o acervo para entender como funciona cada espécie de lenho e confirmar se a madeira adquirida para o desenvolvimento de um móvel é a mesma daquela solicitada.

“Esses profissionais também podem utilizar a coleção da xiloteca para verificar se a madeira que escolheram para trabalhar possui as características que atendem aos requisitos necessários para o uso pretendido”, exemplifica a pesquisadora. 

A importância de identificar espécies de madeira

De acordo com Maria José, em tecnologia de madeiras, a identificação botânica permite o acesso às suas propriedades, geralmente disponíveis em literatura ou bancos de dados, o que propicia um melhor conhecimento e aplicação do material.

Além disso, segundo ela, novas tecnologias e métodos vêm sendo desenvolvidos com intuito de facilitar a identificação ou obter outras informações, como a identificação da origem do material, por exemplo. “Para estes desenvolvimentos a existência de padrões é fundamental”, enfatiza a especialista.

E, para quem ficou interessado em conhecer o acervo de uma xiloteca, a BCTw – Xiloteca Calvino Mainieri permite a consulta das espécies existentes em sua coleção através do link: https://specieslink.net/col/BCTw/.

Esse sistema, desenvolvido com o apoio de diversas instituições como a FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, permite a distribuição de informações que integram em tempo real dados primários de coleções científicas.

Essa é uma maneira de democratizar ainda mais o conhecimento que está armazenado dentro das xilotecas.