Um dos grandes desafios enfrentado pelas marcenarias é a forma como os resíduos da madeira são descartados. Diante disso, a tecnologia LIGNO surge como uma alternativa rentável e sustentável para esse contexto.
A lei federal nº 12.305, de agosto de 2010, instituiu a política nacional de resíduos sólidos e determina que toda marcenaria é responsável pela gestão dos resíduos de madeira que gera, da produção ao descarte. O polo moveleiro de Belo Horizonte, por exemplo, gera por volta de 298 toneladas de resíduos de madeira por mês. Apenas 16% desse material é eliminado de forma sustentável.
É comum destinar esses resíduos para fornos que promovem a queima de cerâmica; para forrar o piso de granjas e para queima a céu aberto, mas opções alternativas ganham espaço com o desenvolvimento de novas tecnologias. Acompanhe, a seguir, os benefícios da tecnologia LIGNO para a indústria moveleira e os impactos esperados.
O que é a Tecnologia LIGNO?
Conversamos com o doutor Glaucinei Rodrigues Corrêa, designer de produto e professor da Escola de Arquitetura e Design, da Universidade Federal de Minas Gerais, responsável pela criação da tecnologia LIGNO.
De acordo com Corrêa, a palavra LIGNO vem de lignina (uma das principais substâncias presentes na madeira) e em latim significa madeira. Essa tecnologia permite a reinserção dos resíduos de madeira na cadeia produtiva de móveis, da seguinte forma: transformação da serragem de madeira maciça ou pó das placas de MDF, MDP e OBS em produtos com alto valor agregado. As etapas de transformação são as seguintes:
- Coleta do resíduo (pó ou serragem);
- Peneiramento para classificação de granulometria (impacta a resistência do produto final);
- Mistura do material peneirado com um tipo de cola, dando origem ao compósito;
- Pesagem do compósito e aplicação no molde;
- Trabalho do molde com pressão e temperatura para dar forma.
Após o tempo de cura, a peça sai pronta do molde, sem necessidade de cortes ou usinagem. O produto final é reciclável, podendo ser reutilizado como matéria-prima para fabricação de novos produtos.
O professor Glaucinei explica: “A versatilidade, em termos de aplicação do compósito, é demonstrada pela capacidade do mesmo em ser moldado com formas complexas; pela possibilidade de alterar a coloração do produto; pela facilidade de usinagem e pela possibilidade de criação de texturas em baixo ou alto-relevo nas peças.”
Como a tecnologia LIGNO pode ser implementada na indústria?
O professsor esclarece: “Para que seja desenvolvida em escala industrial, é necessário que o empresário saiba inicialmente qual é o mercado onde quer investir. Em seguida, fazer o desenvolvimento do produto ou dos produtos a serem fabricados. A partir do projeto dos produtos, o próximo passo é a fabricação dos moldes e especificação da infraestrutura, assim como dos equipamentos necessários para a produção. Deve-se definir o tipo de produto a ser fabricado, o volume de produção e o grau de automatização do processo, para em seguida especificar o investimento necessário”.
O designer de produto é o profissional que exerce a mediação entre a tecnologia LIGNO e a indústria, promovendo as estratégias adequadas para o mercado escolhido. A tecnologia pode ser aplicada para a fabricação dos mais diversos produtos, como, por exemplo, utensílios domésticos, móveis, objetos decorativos, luminárias e brindes.
“A Tecnologia LIGNO é uma inovação patenteada. Está no nível 5 de maturidade tecnológica, de acordo com o método Technology Readiness Level (TRL) e pronta para ser licenciada para indústrias. Pode ser adaptada para pequena, média ou grande escala de produção”, explica o professor.
Análises de amostras do ligno indicam que esse compósito não é citotóxico, sua resistência mecânica (tração) é próxima à do MDF e não há restrições quanto ao tipo de madeira utilizada para gerar o compósito.
Pesquisa e tecnologia potencializando a atividade industrial moveleira
A tecnologia LIGNO foi desenvolvida pela UFMG e pelo SINDIMOV-MG, em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia e o Sindicado das Indústrias de Marcenaria do Vale do Paranaíba.
O objetivo da tecnologia é a geração de emprego e renda a partir da reutilização sustentável dos resíduos de madeira. Ela tem fácil aplicação industrial e está pronta para ser implementada.