A produção têxtil necessita de muita água e de grandes terrenos para o cultivo de algodão e outras fibras. Estima-se que para fabricar uma única peça de tecido sejam necessários 2.700 litros de água doce (quantidade média que uma pessoa bebe em dois anos e meio).
Agora considerando o tamanho da indústria moveleira brasileira, que só em 2022 fabricou quase 40 milhões de unidades de estofados e 35 milhões de peças de colchões e camas-box, é possível entender o impacto desse setor na produção têxtil nacional.
Indústria têxtil e sustentabilidade
Nesse cenário, tornou-se urgente a promoção de uma transformação na indústria têxtil visando a redução de seu impacto no meio ambiente. E, para isso, os primeiros esforços estão sendo em cima do desenvolvimento de processos com mais eficiência térmica e economia de energia.
Além disso, a otimização das etapas de produção, a manutenção adequada dos equipamentos e a implementação de medidas de conservação de energia também são práticas que ajudam a reduzir o impacto ambiental dessas indústrias. Isso porque essas iniciativas contribuem para a redução das emissões de carbono e para a preservação dos recursos naturais.
“Hoje no Brasil são gerados por ano em torno de 150 toneladas de resíduos de confecção, sendo que uma parte destes tecidos são desfibrados e aproveitados para outros produtos”, explica Jairo Dias, coordenador do Instituto Senai de Tecnologia Têxtil de Santa Catarina.
“O problema maior está nos pós uso, onde se reaproveita apenas cerca de 2% de todo o resíduo gerado”, continua o especialista. Dessa forma, é importante entender que a indústria têxtil, de uma forma geral, precisa adequar seus processos e buscar práticas sustentáveis para dar direcionamentos mais nobres para estes materiais.
“Algumas fábricas já tem trabalhos voltados para este assunto, porém, é fato que ainda precisamos melhorar.”
Ainda segundo ele, ao falar em sustentabilidade na indústria têxtil voltada ao setor moveleiro não podemos focar apenas na questão dos resíduos, e sim, em tudo o que acontece durante o processo de fabricação.
“A melhor forma de estimular a sustentabilidade é com o desenvolvimento de novos produtos e processos que não agridem ou agridem menos o meio ambiente por meio de pesquisa aplicada, produtos e processos inovadores”, pontua o coordenador.
Nesse aspecto, a inovação desempenha um papel crucial na promoção da confecção de tecidos para móveis mais sustentáveis, trazendo o uso de novos materiais como tecidos feitos de fibras recicladas, orgânicas ou naturais (como o bambu e o algodão orgânico).
“Aplicar inovações no processo de fabricação como tingimento sem água, utilização de corantes naturais e métodos de produção que minimizam o desperdício, também contribuem para a redução do consumo de água e de energia, além de diminuir a emissão de poluentes”, observa Jairo.
Ele também explica que a inovação do design dos tecidos pode facilitar a separação destes materiais após seu uso, fazendo com que possam ser facilmente desfeitos e reutilizados na criação de novos móveis.
Tecidos sustentáveis
De acordo com Jairo, os tipos de tecidos mais sustentáveis disponíveis no mercado para a confecção de móveis incluem os fabricados com algodão orgânico (sem o uso de pesticidas e fertilizantes químicos), além de outras fibras naturais que dispensam ou tem o uso de agrotóxicos muito reduzidos.
“Os tecidos reciclados também entram nesta lista, pelo fato do ciclo de vida destes produtos ser prolongado, evitando descartes prematuros”, enfatiza o coordenador.
“Um tecido só é considerado sustentável quando a obtenção de matéria-prima, sua produção e seu uso têm um impacto ambiental, social e econômico reduzido”, continua o especialista, citando como exemplos:
- Tecidos produzidos a partir de fibras naturais como algodão orgânico e bambu que possuem uma produção similar a da viscose;
- Cânhamo ou fibras recicladas (como poliéster) que reutilizam materiais que seriam descartados no meio ambiente;
- Tecidos produzidos através de processos de produção ecológicos com métodos de fabricação que minimizam o uso de água, energia e produtos químicos nocivos, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa;
- Tecidos duráveis que resistem ao desgaste e tem uma vida útil prolongada, reduzindo a necessidade de substituição frequente;
- Fibras que se decompõem naturalmente no ambiente sem liberar substâncias tóxicas;
- Tecidos produzidos a partir da utilização eficiente dos recursos naturais visando a redução de desperdícios.
Produção de tecidos sustentáveis no Brasil
Por fim, Jairo observa que o Brasil tem grande potencial para se tornar líder na produção têxtil sustentável. “Nosso país possui uma vasta biodiversidade e uma grande quantidade de recursos naturais renováveis, como algodão orgânico, juta, bambu e fibras de coco, que são matérias-primas essenciais para a produção de tecidos sustentáveis”, destaca o coordenador.
“Há um crescente investimento em pesquisa e desenvolvimento no setor têxtil brasileiro, com foco em tecnologias sustentáveis e inovações, como o uso de resíduos agrícolas para a produção de fibras têxteis, por exemplo”, continua o especialista.
“O tema ESG chegou no país e potencializa as oportunidades, já existem empresas brasileiras colhendo frutos. Além disso, há uma crescente conscientização entre os consumidores sobre a importância desse tema, aumentando a demanda por produtos têxteis sustentáveis”, finaliza Jairo.
Sobre o tema, conheça também as práticas de reciclagem na indústria moveleira.