A neuroarquitetura está começando a conquistar seu espaço no Brasil. Essa nova tendência global de design tem sido aplicada com sucesso ao redor do mundo, especialmente em organizações como hospitais, escolas e empresas. Entretanto, ela está começando a ser aplicada, também, em imóveis residenciais, criando ambientes positivos para os moradores.
Muita além da modelagem da construção, a neuroarquitetura também pode ser aplicada ao mobiliário, ajudando a tornar os ambientes mais amigáveis, gerando experiência agradáveis, estimulando emoções saudáveis e trazendo recompensas para os usuários de tais ambientes.
Afinal, o que é neuroarquitetura?
Os espaços arquitetônicos funcionam como espécies de âncoras para a memória. Encontramos nosso lugar na sala por meio de nossa percepção sensorial; o cérebro faz uso de superfícies e sistemas espaciais para armazenar e organizar o mundo em que vivemos. A compreensão desse princípio forma a base para a transferência dos resultados de pesquisas neurocientíficas recentes para a prática arquitetônica.
Nesse contexto, a neuroarquitetura conecta a neurociência, a teoria da percepção e a psicologia da Gestalt, à arquitetura, em uma abordagem holística que se concentra nas leis da formação de estruturas e no movimento do indivíduo dentro do espaço arquitetônico.
“A neuroarquitetura é uma disciplina que estuda como o ambiente físico ao nosso redor pode interferir na atividade cerebral e, consequentemente, no comportamento. A relação entre neurociência e arquitetura vai mais longe do que muitos imaginam. Estudos têm apontado que a ligação entre processos cerebrais e ambientes arquitetônicos consegue gerar um impacto na saúde emocional e física das pessoas”, esclarece a arquiteta e urbanista Suzana Duarte.
Determinados arranjos nos ambientes fazem o cérebro estabelecer mecanismos que produzem os hormônios necessários para desenvolver certas emoções e sensações. Com isso, a neurociência fornece pistas valiosas para os arquitetos sobre como criar e distribuir espaços que estimulem esses resultados.
Em alguns casos, o impacto pode ser benéfico, enquanto em outras situações a forma e a estrutura de uma edificação podem criar uma reação negativa em algum nível se não forem bem planejadas.
Levar seus princípios em consideração, é algo que tem se mostrado relevante, principalmente quando consideramos que, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), passamos entre 80% e 90% do tempo em que estamos acordados no interior dos empreendimentos. Assim, pensar em formas de preservar ou potencializar a saúde emocional e comportamentos positivos enquanto esses espaços são utilizados é pertinente.
“Os benefícios potenciais da neuroarquitetura são amplos. Imagine prédios e ambientes que possam enriquecer a saúde e o bem-estar de seus usuários de forma espontânea. Especialmente em ambientes relacionados à saúde, como hospitais, consultórios e clínicas, isso pode ajudar a potencializar melhorias de quadro, processos de cura, entre outras coisas. Já nas empresas, pode ajudar executivos e equipes a manterem o foco e serem mais produtivos”, aponta Duarte.
Como utilizar essa técnica na prática?
Fatores, como a localização da janela, os ângulos das paredes, a disposição dos móveis, a escolha de cores e texturas dos ambientes, a altura do teto e a incidência solar exercem um impacto nas percepções.
Assim, os efeitos da neuroarquitetura podem ser muitos. O foco pode estar em estimular sensações, melhorar a memória, facilitar a tomada de decisão ou gerar novas experiências para as pessoas.
Por exemplo, para reduzir os efeitos nocivos da iluminação artificial no relógio biológico dos moradores (como os problemas do sono), é recomendado afastar telas que emitem luz azul dos quartos.
Uma pesquisa também demonstrou que o uso de plantas na composição de ambientes ajuda a reduzir o estresse e a melhorar a concentração – não é à toa que tendências como a Urban Jungle e o design biofílico, estão em tanta evidência atualmente.
A forma de dispor os objetos no ambiente também auxilia na tomada de decisão. O cérebro está realizando micro decisões o dia inteiro, e é possível eliminar algumas delas apenas reorganizando as coisas pelos ambientes, o que potencializa a produtividade.
Ainda, até mesmo a altura do teto exerce um efeito no cérebro. Os tetos altos se mostram mais favoráveis para ambientes que servem para a realização de atividades criativas e artísticas, enquanto os mais baixos tendem a facilitar a execução de tarefas diárias e mais rotineiras.
Como utilizar os móveis na neuroarquitetura?
Uma das formas mais eficazes de aplicar a neuroarquitetura no ambiente é explorando o uso dos móveis. Com pequenas intervenções no mobiliário, já é possível estimular mais alegria para uma casa, por exemplo.
“Experimentos têm apontado que a decoração arredondada incentiva mais a atividade cerebral do que móveis quadrados. Além disso, a geometria arredondada é vista como mais amigável, enquanto os móveis alinhados evocam sentimentos de negatividade no cérebro”, destaca a especialista.
É claro, não é necessário que todos os móveis de um projeto sejam curvilíneos, mas adicionar algumas peças dentro de um layout simétrico ou para compor a decoração de um escritório ou quarto de estudos pode ajudar a suavizar o espaço e a promover esses benefícios mentais.
Ainda, se um ambiente tem um sofá quadrado, uma mesa de café redonda ajudará a obter o efeito positivo, por exemplo. Até mesmo uma peça simples, como um puff de chão, já ajuda na composição desse tipo de ambiente.
“É válido lembrar que, como uma nova disciplina, a neuroarquitetura ainda está em desenvolvimento e ainda tem um longo caminho a percorrer antes de atingir a maturidade. Entretanto, já existem muitos experimentos bem-sucedidos sendo aplicados nos ambientes”, sintetiza a arquiteta e urbanista.
Para saber mais sobre como a arquitetura e o design de interiores interagem com nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos, confira também nosso guia de cores no design de interiores: como compor os ambientes.