A ascensão do design biofílico, paisagismo indoor, da decoração comfy, do design sensorial, da neuroarquitetura, do urban jungle — esses são apenas alguns exemplos de tendências associadas a projetos nos quais elementos naturais são destaque. Há, ainda, o movimento urban farming e as hortas caseiras.
Tudo isso se conecta com diversos fatores. Existe uma busca por ambientes mais aconchegantes, humanizados, que promovam bem-estar e que agreguem funcionalidades, suprindo diferentes necessidades.
Ainda, com a parcela da população que mora em áreas urbanas chegando a 70% em 2050, conforme projeções da ONU, há uma demanda por novas abordagens para abastecimento de alimentos saudáveis nas grandes metrópoles, tornando-as menos dependentes da produção na zona rural.
E urban farming e o crescente interesse por horta em casa fazem parte desse contexto. Continue a leitura para saber mais sobre esses movimentos e seus impactos em projetos arquitetônicos e de design de interiores.
O que é urban farming?
Urban farming, também chamado de agricultura urbana, pode ser entendido como a prática de cultivo, processamento e distribuição de alimentos em uma área metropolitana.
De acordo com Luis Felipe Villani Purquerio, pesquisador e professor do Instituto Agronômico (IAC) e organizador do II Workshop Urban Farming, “urban farming é o cultivo em áreas urbanas. Envolve uma área e seus sistemas produtivos para produção de alimentos ou plantas”.
Assim, o urban farming facilita o acesso aos alimentos, reconecta as pessoas que vivem nos grandes centros à prática de cultivo e envolve a comunidade local em vários níveis — desde o fornecimento de produtos frescos e a criação de um sentimento de pertencimento até o incentivo a estilos de vida saudáveis.
Assim, essa tendência pode incluir uma ampla gama de projetos e atividades de produção de alimentos, recebendo cada vez mais interesse por seu apelo de sustentabilidade, acessibilidade, saúde e conveniência.
Por que as pessoas estão montando horta em casa?
Ter horta em casa, mesmo que enxuta, é algo cada vez mais comum e conectado a esse movimento mais amplo.
Neste caso, há diversas razões que fazem com que esse tipo de projeto esteja em alta, incluindo:
Dieta mais nutritiva
Uma rotina alimentar composta por uma variedade de frutas e vegetais frescos é mais diversificada e saudável, repleta de vitaminas, minerais e antioxidantes para proteger as células do organismo.
Afinal, os alimentos com o menor tempo entre a colheita e a ingestão retêm o maior valor nutricional.
Ganhos amplos para a saúde
O envolvimento demandado com atividades de cultivo e cuidado de horta e jardins pode melhorar a saúde cardíaca e a resposta do sistema imunológico e diminuir o estresse.
E, claro, cultivar seus próprios alimentos também permite um controle sobre produtos nocivos e evita que sejam utilizados fertilizantes químicos e pesticidas.
Economia
O investimento em sementes, ervas, plantas e suprimentos ajudará a trazer economia rapidamente com a compra frequente de alimentos naturais em mercados.
Sustentabilidade
Mesmo os produtos orgânicos comprados no supermercado muitas vezes precisam ser transportados a alguma distância, queimando combustível fóssil e contribuindo para as mudanças climáticas. Assim, ter uma horta em casa é uma iniciativa mais sustentável.
Urban farming: quais os impactos e possibilidades nos projetos arquitetônicos?
Há mais uma tendência alinhada a esses movimentos: agritecture. Uma junção das palavras agricultura com arquitetura, ela refere-se aos projetos que levam em conta a relação simbiótica entre os seres humanos e o mundo natural através das lentes do desenvolvimento arquitetônico urbano.
Dessa forma, nesse tipo de projeto, o profissional busca apoiar a integração de técnicas agrícolas em ambientes urbanos, aplicando o pensamento arquitetônico ao projetar a agricultura para o ambiente construído.
O urban farming é um exemplo disso, sendo um recurso para projetos com novas funcionalidades, sobretudo em relação à saúde e ao bem-estar da população das metrópoles.
Isso se traduz em projetos para cidades, bairros, condomínios, prédios comerciais, etc. nos quais o cultivo de alimentos seja incentivado com a projeção de telhados verdes, varandas, jardins comunitários, hortas em parques, plantações em contêineres, fazendas verticais hidropônicas internas de alta tecnologia ou aquícolas intensivas, entre outras possibilidades.
Como essas tendências influenciam na decoração de interiores?
Assim como na arquitetura, essas tendências podem ser utilizadas de diversas maneiras na decoração de interiores.
Dependendo dos metros quadrados disponíveis e do estilo do interior, os designers podem escolher as opções que acentuam os diferentes aspectos do ambiente e permitem um melhor aproveitamento do espaço.
Os jardins internos com horta em casa têm se destacado, oferecendo benefícios variados como a beleza estética, até ganhos para a saúde e para a produtividade das pessoas.
Entretanto, na hora de desenvolver esses projetos, é necessário levar em conta algumas questões e cuidados.
Por exemplo, a iluminação. As plantas precisam de luz para fotossintetizar, crescer e sobreviver. Sem iluminação adequada, elas podem não crescer completamente, não produzir flores ou frutos e podem morrer.
Esta consideração é particularmente importante para jardins internos, que, mesmo perto de uma janela, podem não receber luz adequada nos meses de inverno.
Assim, os jardins internos precisarão de sistemas de iluminação específicos para garantir que o ambiente permaneça bonito e gere bem-estar e que seja propício para o desenvolvimento das espécies escolhidas.
Purquerio indica ainda que, para um cultivo de plantas indoor, é preciso considerar o uso de “luz artificial (podendo os diodos emissores de luz (LEDs) ser utilizados para essa finalidade) e ter temperatura e fornecimento de água controlados”.
Se o espaço for enxuto, ainda assim, é possível criar um projeto de horta em casa e que seja alinhado ao urban farming. Pode-se projetar o cultivo em nichos, prateleiras, quadros verdes, treliças ou, mesmo, em hortas verticais, que não exigem espaço no chão para desenvolvimento.
Ainda, é possível criar projeto de vaso composto com móvel de marcenaria, estante ripada para facilitar a rega, móvel com rodízio, para ser posicionado conforme a necessidade de exposição à luz solar, entre outros que aliem design com praticidade e funcionalidade.
Uma horta formada por vasinhos cheios de estilo alocados em uma escada de madeira também pode ser uma boa alternativa para criar hortas mais compactas de ervas, chás e pequenos alimentos.
Combinam com esse tipo de projetos elementos de marcenaria tradicional, feitos por fábricas e profissionais locais, além do uso de materiais naturais, sobretudo madeira.
Para mais ideias e para saber mais sobre tendências relacionadas, leia também nosso artigo sobre o design biofílico na marcenaria.