Neste momento, em que muitas pessoas estão ficando mais tempo em casa, buscar formas de tornar essa vivência isolada mais confortável e emocionalmente saudável tornou-se ainda mais importante. E, entre os meios para isso, está o de repensar o papel do mobiliário. É hora de reconhecer: os móveis afetam o bem-estar.
Os elementos de design das peças não são apenas esteticamente agradáveis, como também podem aprimorar a sensação de bem-estar e ajudar a criar ambientes mais aconchegantes e seguros. Como refúgios, as casas têm um grande impacto no estado de espírito dos moradores. De fato, móveis do ambiente podem afetar o humor enviando sinais emocionais sutis ao subconsciente.
Portanto, é importante que profissionais da indústria moveleira, arquitetos e designers considerem a psicologia e neurociência que estão por trás da escolha de elementos que contribuam, também, para o bem-estar de seus clientes.
“Hoje, compreende-se que os móveis não são apenas utilidade, como também funcionalidade. Assim, na hora de projetá-los ou inseri-los nos projetos, é importante levar em conta beleza, função, ergonomia e significado”, destaca a arquiteta Suzana Duarte.
Nesse sentido, Catharine Malfatti, Designer da Tempo – Espaço e Objetos, também compreende que “o contentamento no projeto não é só visual, ele precisa ser afetivo. E, para isso acontecer, a conversa com o cliente e uma rica pesquisa de materiais é o que faz toda diferença”.
Afinal, como os móveis afetam o bem-estar?
Embora o vínculo entre design de interiores e as emoções tenha ganhado bastante atenção na última década, essa forma de psicologia ambiental existe há milhares de anos – na milenar harmonização de ambientes indiana Vastu Shastra ou no chinês Feng Shui, por exemplo.
No entanto, nos últimos anos, contou-se com o aval, também, da ciência para compreender como os móveis afetam o bem-estar. Com a ascensão da neurociência, por exemplo, pesquisadores conseguem demonstrar a capacidade de elementos, como os móveis evocarem respostas emocionais positivas ou negativas nas pessoas. Esse tipo de descoberta abre as portas para os profissionais do setor moveleiro projetarem peças que colaborem para incentivar a criatividade, a paz, o bem-estar e a felicidade de seus clientes.
Bem-estar também é proporcionado pela relação afetiva com o mobiliário
Na hora de avaliar sobre como os móveis afetam o bem-estar, é importante levar em consideração que as pessoas se relacionam com essas peças e os ambientes também em nível social, pessoal e afetivo.
“É imprescindível que os móveis tenham alguma conexão com o morador, que tragam algum tipo de memória afetiva ou desejo anterior por aquele móvel (estilo, cor, designer, etc.). As pessoas sentem-se mais tranquilas nos ambientes em que se conectam rapidamente. Referências anteriores ou lembranças podem ser o start para essa ligação. No caso dos espaços corporativos ou comerciais, o mobiliário precisa também transmitir o conceito da empresa ou da marca, assim o colaborador ou cliente entenderá como coerente essa harmonia e se sentirá mais à vontade para utilizar esse lugar. Imagine uma startup de tecnologia decorando seus espaços de trabalho com mobiliários e objetos barrocos, por exemplo, ficaria totalmente fora do contexto. O mobiliário nas casas, empresas e comércios precisa conversar de maneira descomplicada com o usuário. É essa descomplicação harmoniosa que leva conforto e tranquilidade para as pessoas”, explica Catharine Malfatti.
A especialista complementa afirmando que “quando falamos de memória em um móvel, não estamos falando somente de um móvel antigo. A memória pode estar em um detalhe quase imperceptível, como um puxador. Uma cadeira com um design super moderno, por exemplo, pode trazer satisfação visual e afetiva para um determinado morador que desejou essa cadeira por muito tempo. Um briefing bem detalhista e profundo, feito por arquitetos, designers e marceneiros deve abordar esses aspectos para um resultado mais assertivo nos projetos”.
Exemplos de como os móveis afetam o bem-estar
“Potencialmente, todos os elementos dos móveis afetam o bem-estar: cor, textura, forma, estilo, etc. Tudo isso pode impactar a forma como nos sentimos em um nível biológico e psicológico, pois nosso cérebro secreta neuroquímicos à medida que nos inserimos nos ambientes”, explica Duarte.
Conheça, a seguir, alguns exemplos de como tudo isso pode ser levado em conta para compreender como os móveis afetam o bem-estar.
Móveis feitos com elementos naturais
“Há alguns anos surgiu um movimento chamado Hygge, na região da Escandinávia. Por conta do prolongado inverno e das pouquíssimas horas de sol, as pessoas passam grande parte do ano dentro de casa. Então, na busca por um lar mais acolhedor, madeira, fibras naturais, aproveitamento da luz natural e plantas são os principais elementos nesse estilo de decoração”, destaca Malfatti.
De fato, a madeira dos móveis pode exercer um efeito calmante sobre as pessoas, ajudando a diminuir a pressão arterial e a frequência cardíaca. Além disso, a madeira maciça, em especial, possui uma excelente propriedade acústica, ajudando a tornar os ruídos mais suaves, o que favorece a criação de um ambiente mais calmo.
“Por exemplo, você pode optar por colocar painéis de madeira atrás de uma cama, para ajudar a criar um ambiente relaxante. Ainda, o contato com a madeira é fisiologicamente relaxante, o que a torna um ótimo material para móveis que serão tocados, uma mesa de estudo, por exemplo, e que poderá ajudar seu usuário a se sentir mais calmo e tranquilo”, sugere Duarte.
Além disso, outros elementos naturais podem atuar para auxiliar em uma experiência emocional positiva, como sensação de proximidade com a natureza, aconchego e um efeito relaxante. É possível utilizar fibras naturais, bambu, palha, mármore aliados a tecidos orgânicos para criar ambientes mais acolhedores e que proporcionem bem-estar.
Móveis com formas suaves
Muitas pessoas, instintivamente, optam por móveis com formas suaves e bordas curvas, ao invés de cantos mais angulosos. Alguns estudos sugerem que isso pode ser justificado devido ao subconsciente alertar sobre o perigo – no caso, as arestas mais acentuadas seriam percebidas instintivamente como um perigo potencial e deixariam as pessoas mais ansiosas e em estado de alerta.
Agora que você já sabe mais sobre como os móveis afetam o bem-estar, confira também o conteúdo que preparamos sobre neuroarquitetura.