Se, antes, a modernização da indústria moveleira já era uma necessidade, agora, com as transformações que estão sendo aceleradas em razão da pandemia de COVID-19, como a digitalização das empresas, ela se torna ainda mais fundamental. No entanto, conforme destaca Ricardo Dal Piva, consultor do Instituto SENAI de Tecnologia em Madeira e Mobiliário, o desafio para alguns negócios pode ser grande.

“O setor moveleiro ainda é um dos setores cujas oportunidade de atualização e modernização no Brasil são vastas. Em um universo de mais de 20 mil empresas, 74% dessas ainda são pequenas e médias e, dentre essas, mais de 85% não possuem seus parques fabris atualizados ou modernizados com as tecnologias que hoje já estão disponíveis no mercado. Então, a modernização da indústria moveleira é mesmo mais do que necessária”, afirma.

Modernização da indústria moveleira por meio de tecnologias e da manufatura avançada

A implementação de recursos da manufatura avançada integrados a sistemas de automação representa um significativo potencial para tornar a indústria moveleira mais eficiente, reduzir índices de não conformidades, promover processos otimizados e conectados durante toda a cadeia produtiva, entre outros ganhos.

Ainda, isso contribui para que se digitalizem os dados produzidos desde a fase de ideação dos móveis, passando por seus protótipos, produção e estratégias comerciais, o que representa um ganho potencial em inteligência de dados bastante expressivo. 

Ricardo Dal Piva comenta que esse ainda é um dos caminhos que precisam ser trilhados para a modernização da indústria moveleira. 

“Vejo que na maior parte das empresas o mais difícil é obterem e manterem uma coleta de dados relativamente simples, porém sem isso, se torna amador e sem fundamento o processo de tomada de decisão nos dias de hoje, seja ela estratégica ou operacional para alcançar o caminho da modernização. Ao longo de meus 16 anos de consultoria, conheci muitas fábricas modernas, com equipamentos de última geração, porém com sua eficiência desconhecida, desconectada do fluxo com os processos ao seu redor”, afirma o especialista lembrando de que é preciso, além do investimento em aquisição, investir em treinamento nas empresas.

Outros ganhos potenciais desse tipo de modernização incluem diminuição de custos com manutenção de equipamentos, redução nos gastos com energia elétrica e nos desperdícios produtivos, e elevação da produtividade e eficiência na empresa. 

Mais especificamente no caso das fabricantes de seriados, a modernização da indústria moveleira envolvendo tecnologias de automação e de integração da cadeia produtiva possibilita, também, que se trabalhe de forma mais ampla com peças customizadas e personalizadas, o que pode levar ao atendimento de um público ainda maior pela empresa. 

No entanto, não é qualquer tecnologia 4.0 que trará os ganhos esperados para esses negócios. É preciso, antes de fazer investimentos, avaliar quais são as principais necessidades de melhorias e os gargalos que precisam ser neutralizados, além dos seus aspectos mais críticos.

Ainda, é importante avaliar as possibilidades de integração de maquinários e recursos atuais com os que deverão ser implementados, as vantagens e desvantagens de fazer retrofit industrial e, também, alinhar o investimento gradual ao planejamento financeiro da empresa.

“Não é necessário mudar tudo do dia para a noite, nem investir em qualquer novidade promissora. Por exemplo, uma empresa pode ainda não ter maturidade digital para tecnologias de machine learning, isso pode ser algo a ser implementado lá na frente. Em uma determinada empresa, a melhor tática para dar o start nessa modernização, de forma que se tenham ganhos mais rápidos e consistentes, pode ser a utilização de um sistema de alimentação automática em uma coladeira de bordas. Já em outra, a automatização de lixadeiras com sensores de fim de curso pode ser muito benéfica. A robotização do processo de pintura em laca pode ser de ótimo custo-benefício para outras empresas, reduzindo muito as perdas por não conformidade. Tudo depende da realidade e das necessidades específicas de cada empresa”, afirma o professor e consultor Lucas Vinicius.

Atualização de layout também é fundamental para que os ganhos com a modernização se concretizem

O consultor do Instituto SENAI de Tecnologia em Madeira e Mobiliário ressalta que, por vezes, a modernização da indústria moveleira fica represada, e os resultados do investimento em maquinários e tecnologias não se evidenciam em razão da falta de cuidados nessa implementação. Além do treinamento da equipe para utilização dos novos recursos e processos de trabalho, deve-se incluir nesse planejamento, também, uma atualização do layout fabril.

“Muitas empresas ficam até duas décadas sem refazer sequer um estudo geral de suas plantas, somente vão trocando ou adquirindo novas máquinas inspirando-se nas ações da concorrência ou de acordo com o espaço disponível no layout de suas plantas de décadas atrás. 

Para otimizar os processos de produção de uma indústria moveleira, com certeza, deve-se ter atenção nesse aspecto. É fundamental analisar com cuidado a disposição das máquinas, os fluxos de pessoas, de materiais e produtos: eles estão há quantos anos influenciando na eficiência dos seus processos e em sua produtividade? Em tempos de crise ou a qualquer momento, é crucial olhar para o seu layout e identificar oportunidades de como melhorar os fluxos dos processos, a realocação dos espaços, as distâncias entre postos, as movimentações de pessoas e de materiais, etc.

Com isso, gostaria de dizer que a modernização da indústria moveleira pode, sim, partir da atualização de um bom layout fabril e, com isso, resultar em redução de custos, aumento da produtividade e, até mesmo, incremento das vendas, o que consequentemente irá impactar no aumento da lucratividade do negócio”, sugere o especialista.

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