A logística reversa surgiu a partir dos princípios da economia circular, que propõe a redução do desperdício e o uso contínuo dos recursos ao longo do tempo.

Embora o conceito tenha começado a se consolidar nos anos 1990, foi apenas a partir dos anos 2000 que ele passou a ganhar espaço na indústria moveleira, impulsionado pelo aumento da preocupação ambiental e pela pressão por práticas mais sustentáveis. 

Diversas empresas ainda interpretam equivocadamente a logística reversa como um simples descarte de resíduos de produção, quando na verdade ela permite a reinserção dos resíduos de pós-consumo em novos ciclos produtivos, o que possibilita tanto prolongar a vida útil dos aterros sanitários, quanto reduzir a extração de matérias-primas necessárias para a fabricação de produtos e embalagens.

Com isso, permite promover novas maneiras de produção com o uso consciente, algo que, além de gerar lucro, ainda pode melhorar a visibilidade perante os clientes, funcionando como uma espécie de marketing favorável.

O que é logística reversa?

A logística reversa pode ser definida como o conjunto de processos e ações voltados para o retorno dos produtos, resíduos ou materiais ao ciclo produtivo, buscando reaproveitá-los, reciclá-los ou destiná-los adequadamente.

Diferente da logística tradicional, que foca apenas na entrega e na distribuição dos produtos ao consumidor, essa prática atua no sentido oposto, fechando o ciclo do produto e minimizando o desperdício.

No setor moveleiro, isso significa recolher resíduos gerados durante a fabricação, como pó, serragem e retalhos, bem como móveis descartados ao final de seu uso, para que esses materiais possam ser reutilizados em novos processos produtivos ou transformados em outros produtos, promovendo assim o conceito do “berço ao berço” (cradle to cradle).

Gestão de Resíduos Sólidos

A logística reversa está prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (estabelecida pela lei 12.305 de 2/08/2010) e é definida como “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”.

Segundo a gerente do departamento administrativo e financeiro da SIMOV (Entidade de Representação Empresarial da Indústria Moveleira no Paraná), Márcia Maria Furtado, o termo prevê o envolvimento de toda a cadeia produtiva, desde os responsáveis pelo cultivo, extração e fornecimento de matéria-prima até o consumido final, com a responsabilidade no descarte correto do produto no momento de sua troca ou fim de vida útil, quando deveria retornar para o início do processo produtivo.

“As empresas também precisam visualizar que não são responsáveis sozinhas por este processo, pois existem vários envolvidos”, afirma.

Na gestão de resíduos no setor moveleiro, no entanto, existem diversos riscos e as empresas devem se adiantar e demonstrar que estão trabalhando para que os resíduos tenham o tratamento adequado, de acordo com o gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Rafael Cesar da Costa, que lista:

  • O risco reputacional de ter um produto seu encontrado em uma local irregular (ex. colchão ou sofá jogado no leito de um rio);
  • O risco regulatório e financeiro de sofrer restrições e multas dos órgãos ambientais e do Ministério Público caso não esteja cumprindo a legislação (Lei 12.305/2010).

Como aplicar a logística reversa na indústria moveleira

Para implementar a logística reversa, as empresas precisam estruturar sistemas que envolvam:

  • Segregação e classificação dos resíduos: é fundamental identificar e separar os diferentes tipos de resíduos, como MDF, MDP, serragem e retalhos, para que recebam o tratamento adequado conforme suas características.
  • Parcerias com recicladoras e cooperativas: estabelecer vínculos com empresas especializadas na reciclagem ou reaproveitamento dos resíduos, que possam reinserir esses materiais no ciclo produtivo ou gerar subprodutos de valor, como painéis reconstituídos ou combustíveis renováveis.
  • Tecnologia e inovação: investir em tecnologias que possibilitem transformar resíduos em bio-óleo, pellets para combustão ou novos materiais, ampliando as possibilidades de reaproveitamento e reduzindo o descarte inadequado.
  • Treinamento e conscientização: capacitar colaboradores para entenderem a importância da logística reversa e adotarem práticas que facilitem a segregação correta e a redução do desperdício dentro das linhas de produção.
  • Monitoramento e controle: acompanhar a geração, destino e reaproveitamento dos resíduos, garantindo conformidade com a legislação, como a Portaria FEPAM nº009/2012, e buscando continuamente melhorias nos processos.

Vantagens da logística reversa

Além de cumprir uma obrigação legal, a logística reversa oferece diversos benefícios para as empresas, tais como:

  • Redução de custos: ao reaproveitar materiais e resíduos, diminui-se a necessidade de adquirir matérias-primas novas, gerando economia.
  • Diferenciação de mercado: empresas que adotam práticas sustentáveis conquistam consumidores e investidores que valorizam responsabilidade ambiental e social.
  • Melhoria da imagem institucional: o compromisso com o meio ambiente reforça a reputação da marca, facilitando o acesso a mercados e parcerias.
  • Atendimento a normas e regulamentos: estar em conformidade com a legislação evita multas, sanções e problemas legais.
  • Geração de novas oportunidades de negócio: resíduos podem ser transformados em produtos com valor agregado, como bio-óleo ou painéis reciclados, ampliando o portfólio.

Cases de sucesso

No Brasil, empresas como a UNICASA são exemplos de organizações que vêm aplicando com sucesso os princípios da logística reversa, integrando os 5R’s (reduzir, reutilizar, reciclar, repensar e recusar) em seus processos produtivos.

Elas investem na segregação adequada dos resíduos e os destinam a parceiros licenciados, garantindo que materiais como MDF, MDP e serragem sejam reciclados ou transformados em fontes de energia renovável, como bio-óleo e pellets para caldeiras industriais.

Além disso, a inovação tecnológica, como a pirólise rápida desenvolvida por pesquisadores da Unicamp, vem ampliando as possibilidades de aproveitamento dos resíduos, transformando-os em combustíveis limpos e eficientes, contribuindo para a redução do uso de fontes fósseis.

Essas ações não só fortalecem a sustentabilidade ambiental, como também geram impacto positivo na economia da empresa, refletindo em aumento da receita e maior valorização no mercado financeiro.

Aproveite para baixar o Guia de melhores práticas de sustentabilidade no setor moveleiro.