Ainda no primeiro dia do 12º Congresso Nacional Moveleiro, realizado em Curitiba (PR), nos dias 1 e 2 de outubro, Fabrizio Sardelli Panzini, diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Amcham Brasil e especialista em comércio internacional, apresentou a palestra “Brasil e Estados Unidos: o papel da Amcham nas relações comerciais”.
Ao longo de sua fala, ele traçou os desafios atuais das relações comerciais bilaterais, o crescente “tarifaço” dos EUA sobre produtos brasileiros e os caminhos possíveis para que o setor moveleiro enxergue oportunidades ou, pelo menos, minimize impactos.
Linha do tempo tarifária e estratégias da Amcham
Panzini iniciou com um panorama das fases recentes das tarifas impostas pelos EUA ao Brasil, destacando eventos como anúncios de medidas de proteção (incluindo aço e alumínio), tarifas recíprocas, imposições adicionais de 40% e abertura (ou expectativa) de negociações.
Ele também descreveu as principais linhas de atuação da Amcham para lidar com essas pressões: envolvimento com empresas americanas e com a U.S. Chamber, proposições junto ao governo brasileiro (inclusive com senadores), participação em audiências em Washington e missões de engajamento legislativo.
Para ele, essas ações são fundamentais num cenário de instabilidade comercial, em que pressão tarifária, investidas protecionistas e retaliações mútuas são elementos constantes.
Balança comercial, exportações e impactos setoriais
Em sua apresentação, o especialista mostrou que ao longo dos últimos anos o saldo comercial em bens entre Brasil e EUA flutuou: variou de US$ 4,2 bi em 2015 para US$ 7,4 bi em 2024, com picos de US$ 15,8 bi em 2021, e uma queda acentuada em 2023. Essa volatilidade evidencia a dependência de fatores externos e mudanças nas políticas comerciais.
Ele destacou ainda que, entre 2024 e 2025, as importações brasileiras dos EUA cresceram 4,6%, enquanto as exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5%, resultando num déficit pronunciado nessa relação comercial bilateral.
No desenho de produtos e mercados, Panzini apontou que para madeira e suas obras, os EUA representaram 43,3% das exportações brasileiras em 2024. Já para outros móveis e partes eles responderam por 32,9% da pauta exportadora brasileira.
No âmbito regional, os estados do Sul, principalmente Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul são os mais vulneráveis, isso porque concentram grande parte das exportações destinadas aos EUA tanto no setor madeireiro quanto no de móveis.
Como identificar a sobretaxa aplicada ao produto
Panzini também explicou de forma simples o processo para uma empresa apurar se seu produto está sujeito a sobretaxas norte-americanas, e qual seria o percentual.
Confira o passo a passo apresentado pelo especialista:
- Verificar se o produto está na lista de exceções das tarifas recíprocas de 10% — se sim, aplica-se 10%. Se não, sobe 10% básico.
- Verificar se está em lista de exceções das tarifas de 40% — se estiver, não se aplica essa sobretaxa; se não, ela incide.
- Se o produto não constar em nenhuma lista de exceção, poderá ser aplicado 50% de sobretaxa.
- Em paralelo, avaliar se há medida em vigor da Seção 232 (medidas protegidas pelos EUA com base em segurança nacional), que pode aplicar sobretaxas entre 15% e 50%.
- Vale ressaltar: tarifas recíprocas não se somam à Seção 232 — aplica-se a que for pertinente.
Segundo o palestrante, esse mecanismo complexo exige que empresas façam mapeamento rigoroso de seus produtos e entendam em qual enquadramento eles se encontram para que, a partir disso, definam suas próprias estratégias.
O que esperar com o tarifaço: cenários e probabilidades
Apesar do cenário ser de instabilidade e incertezas, Panzini apresentou suas hipóteses do que acontecerá com o mercado moveleiro após a aplicação das novas tarifas.
Para começar, o especialista pontuou que uma opção para as empresas brasileiras é tentar fazer negociações diretas com os clientes americanos. No entanto, segundo ele, esse é um caminho difícil de ser sustentado a longo prazo devido ao tarifário agressivo que tem acontecido.
“Outra hipótese é que seja feito um julgamento sobre as tarifas brasileiras com negociações via Seção 301 e retaliações. Porém, é preciso lembrar que nossas negociações com os EUA estão com os canais obstruídos”, observou. “Nesse cenário, acredito que nossa maior chance de êxito é a partir de um engajamento direto com o setor empresarial americano ou na formulação de um novo planejamento tributário e exportador”, continua Panzini.
“Ainda assim, nesse momento, a melhor saída é a diversificação dos destinos das exportações brasileiras de forma que possamos reforçar os laços com outros parceiros internacionais”, concluiu.
A partir desse contexto, o especialista defendeu que, nas circunstâncias atuais, o setor moveleiro, bem como seus fornecedores e associados, deveriam considerar as seguintes estratégias:
- Fortalecer relação com compradores e construtoras nos EUA, para reduzir intermediários e depender menos de negociações puramente comerciais;
- Investir em planejamento tributário, para aproveitar possibilidades de exceções ou regimes especiais;
- Utilizar inteligência comercial, inclusive com a APEX Brasil, para mapear mercados alternativos;
- Apostar em integração por meio de investimentos (por exemplo, produzir nos EUA, formar parcerias locais etc.).
O palestrante também destacou que a Amcham mantém um observatório de política comercial dos EUA, constantemente monitorando medidas tarifárias, decisões futuras e seus impactos para o Brasil. Essa plataforma, segundo ele, está acessível no site da Amcham e pode servir como ferramenta útil para as empresas do setor acompanharem os cenários e embasarem suas decisões.
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