Lançado em 1961, o Salão de Móveis de Milão é o principal evento do gênero do mundo, líder na exibição de novos produtos do setor mobiliário, iluminação e decoração. A feira, que acontece em abril de cada ano, deve reunir, na edição de 2017, cerca de 2.500 marcas de todo o mundo, inclusive empresas brasileiras de móveis, que vão expor seus produtos em uma área de 200 mil metros quadrados.
O evento acontece no distrito expositivo de Rho, província de Milão, na Itália. Em paralelo ao salão, existe ainda uma agenda com mil eventos ocorrendo na cidade, relacionados não apenas aos móveis, mas a todo tipo de aplicação de design. Dessa forma, Milão tornou-se um importante espaço de exposição e relacionamento entre empresas e profissionais do setor de design mundial.
Há anos, delegações de empresários, arquitetos e designers brasileiros participam desses eventos. Para Ricardo S. Schirmer, designer e professor da Escola Panamericana e cofundador do escritório de design Primata Criativo, o Salão é uma oportunidade para estimular o crescimento da indústria brasileira. “É importante para que as empresas brasileiras vejam o quanto é preciso evoluir ainda e entendam como a produção em escala é mais forte em outros países e como o design é a estratégia mais importante para essa indústria. Sem ele, não há modos mercadológicos para uma exportação, por exemplo”, afirma.
Design próprio e originalidade são ensinamentos das empresas brasileiras de móveis que participam das feiras de Milão
Muitas indústrias brasileiras ainda mantêm o conservadorismo, em oposição ao que é praticado em vários países. Ainda falta uma visão de futuro e disposição para as empresas inovarem e correrem riscos. O livro Móvel brasileiro moderno, produzido pela FGV Projetos, relembrou um momento de inflexão para o setor ocorrido em 1990, quando as barreiras de importação de produtos foram derrubadas. “O consumidor pôde, enfim, comparar produtos de várias procedências e, como o arremedo mal feito dos similares estrangeiros predominava, o impacto imediato da abertura foi grande. Algumas empresas quebraram, outras se tornaram importadoras”.
É necessário que haja uma compreensão de que a indústria de móveis brasileira precisa substituir a cópia estrangeira pelo investimento em design próprio, realizado por profissionais do ramo. Não há mais espaço para o amadorismo, o cliente final está cada vez mais exigente e bem informado. “Não podemos comparecer em eventos, como o de Milão, copiar, voltar e dizer que é nosso. Nesta feira todos aprendem, não apenas o Brasil”, afirma Ricardo.
Desde 1995, o Governo Federal promove o Programa Brasileiro de Design (PDB), com a missão de promover o desenvolvimento do setor no Brasil, dado ao fato de o país ter forte identidade criativa, e desenvolver a marca Brasil no competitivo mercado internacional. A ideia é motivar empresários para que adotem o design e a inovação em seus sistemas produtivos.
O Sebrae também tem criado iniciativas para aproximar designers e pequenos empresários, o que tem aumentado o mercado de trabalho junto às indústrias moveleiras e, também, estimulado o consumo.
Dessa forma, o país começa a colher os frutos dessas políticas, mas ainda há um longo caminho e muito espaço a ser conquistado.
Criatividade e inovação para conquistar espaço nas feiras de Milão e no mercado
A ampliação da participação de empresas brasileiras de móveis no Salão de Milão se deve ao reconhecimento dos investimentos em design, tecnologia e, principalmente, inovação. O grande diferencial do Brasil é a criatividade, a pluralidade e a originalidade dos seus designers. O que antes era conhecido como um país copiador, agora se transforma em um protagonista no cenário mundial do design. “Ainda não sabemos produzir design com distintas matérias-primas, então utilizamos a nossa interpretação criativa”, defende Schirmer.
Esse, de fato, é um dos fatores que levam empresas nacionais a serem selecionadas para o Salone Internazionale del Mobile (iSaloni), em Milão: a criatividade aliada ao investimento em design próprio, inovação e tecnologia no setor tem ajudado empresas brasileiras de móveis a se destacarem e a ter seus atributos diferenciados validados pela COSMIT, responsável por selecionar as empresas para o evento.
Várias revistas internacionais têm publicado frequentes ensaios e especiais sobre o Brasil, que passa a ser reconhecido pelo establishment do design mundial. Entre elas, há a Domus, da Itália, a Experimenta, da Espanha, e a Wallpaper, do Reino Unido.
Outro sintoma desse destaque internacional são as premiações. Na edição de 2016 do iF DESIGN AWARD, dos 101 projetos brasileiros inscritos, 40 foram premiados, entre eles categorias como produto, arquitetura e interiores. As empresas vencedoras conquistaram o direito de ostentar o selo do iF em seus produtos, além de participar de uma plataforma digital de referência de empresas de design pelo mundo.
Tal protagonismo tem feito com que os pontos de vendas de móveis brasileiros no exterior sejam multiplicados, sendo esta uma oportunidade única para o Brasil afirmar sua originalidade perante o mundo.
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