Cada vez mais, o presente acelerado e o futuro em constante mudança exigem adaptações rápidas e certeiras, principalmente no que diz respeito ao design e às tendências visuais para a produção de móveis. Nesse sentido, o cool hunting se mostra um aliado importante da estratégia, capaz de ajudar os profissionais a identificarem e interpretarem tendências, incorporando-as à produção e ao projeto. Nessa entrevista, a Designer e Trend Analyst Fah Maioli, especialista na área e responsável por um curso online de Cool Hunting, comenta sobre essa técnica e seu potencial transformador para arquitetos e designers de interiores. 

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1. Como você escolheu sua carreira e qual foi sua trajetória até aqui?

Tudo começou em 1994, quando a universidade de minha cidade natal, Bento Gonçalves, lançou o primeiro curso focalizado no desenvolvimento de mobiliário. Como sempre amei desenhar e colocar minhas ideias no papel, passei no vestibular, fiz parte da primeira turma e então me apaixonei pelo setor moveleiro. Fui a primeira bolsista do CNPq na área do Design no então Senai Cetemo e, recém formada, fui selecionada entre mais de 40 arquitetos e designers para fazer parte do setor de marketing de uma grande empresa brasileira fabricante de painéis decorativos (Eucatex). Foi lá que o meu percurso de pesquisadora e analista de tendências começou. Fah maioli.jpegEu atuava como especificada técnica, realizando a atividade que hoje conhecemos como cool hunter. Levava aos clientes a pesquisa de tendências que realizava com o setor de marketing, antecipando gostos, mudanças e estratégias comerciais para o setor moveleiro do sul do Brasil. Era muito inovador à época e marcou positivamente muitos clientes. Sentia porém a necessidade de complementar a minha formação acadêmica e, já que o Brasil não oferecia nenhuma formação em Trend Analysis, organizei um ano sabático na Itália, onde passei no teste de seleção para o Master in Management of Creative Process, em uma das mais seletivas universidades milanesas da área da Criatividade e Comunicação, a IULM. Após isso, estudei Trendsetting no IED de Milano. Tive a oportunidade de aprender diretamente como se faz análise do mood cultural do momento e pesquisa sócio comportamental com todos os mestres do setor, como Domenico de Masi, Elio Fiorucci, Giampaolo Fabris, Umberto Eco, Zigmunt Bauman, Francesco Morace, por exemplo. Foi o ano mais criativo de toda a minha vida acadêmica!

2. Por que Milão é considerada a capital mundial do design? Qual é sua relação com a cidade?

Porque o sistema de design (criação, produção, comercialização e mostra) depende de vários fatores que devem andar juntos e em sintonia, que ela encarna: é a capital econômica, real, moral, comercial e industrial do país. Adicione aqui que a sua vocação historicamente é a de ser uma grande cidade comercial, a encruzilhada geográfica de importantes estradas comerciais que ligavam a bota ao resto da Europa, num fluxo de conhecimento, compartilhamento, aplicação e pesquisa. Consequentemente, a área milanesa também se tornou uma área especializada na transformação de muitas matérias-primas, especialmente para uso doméstico e recreativo, com uma base de artesãos complexa desde o século XIV, que sempre conseguiram acolher demandas inovadoras e contínuas. Milano era e está se tornando a capital da criação europeia, da Moda ao Design. Por exemplo, o Wallpaper Design Awards reconheceu o prêmio de melhor cidade de 2019 a Milão. Desta vez, a capital da Lombardia triunfa diante de cidades como Sharjah, Xangai, Helsinque e Vancouver. Uma cidade em constante movimento, que está passando por um verdadeiro “renascimento”. E então esta é a minha relação com ela: um amor baseado no respeito de sua história, de suas tradições, de sua cultura, mas principalmente sua arte. Como todo amor verdadeiro, é intenso e incondicional. Eu acho que o futuro das cidades passa por observar o que está acontecendo aqui. E assim, já que me ocupo de sinais de tendências, penso que vivo no melhor lugar do mundo para isso!

3. Qual a principal diferença entre o design brasileiro e o italiano? Existem pontos em comum entre os dois?

Posso falar com propriedade sobre Design de Mobiliário. Nesse setor, já que sou designer com formação brasileira, mas especializada na Itália, senti na pele que a primeira diferença está na base do ensino do design. Aqui existe um acento maior sobre o Humanismo, as Artes, a Filosofia, A Psicologia, Os Arquétipos, a Herança Familiar… No Brasil, à minha época, ensinava-se Técnica, Indústria, e assim o Design era mais um resultado do que um processo. Aqui não, nunca foi assim. Isso descobrimos quando começamos a entender a história do design italiano. Ela é incrivelmente rica e inspiradora porque se inspira na observação do ser humano, não no processo. Há muitas coisas que os italianos criaram e projetaram ao conhecer o modo de vida diário das pessoas, pois design diz respeito às pessoas e seus hábitos e, portanto, sempre deve ser usado e apreciado, seja um objeto muito funcional quanto um objeto muito bonito. Muitos designers italianos tiveram um talento incrível em combinar sua visão com sensibilidade às necessidades e prazeres humanos, e acredito que a Itália continua muito boa em fazê-lo, estamos muito em contato com a vida de todos dias. Por exemplo, Giò Ponti era um mestre de 360 graus: ele podia projetar uma igreja, além de uma colher, uma mesa e o interior de um prédio de escritórios; ele criou a Domus Magazine, uma das revistas mais importantes dedicadas ao design . O Design Made in Italy de certa forma encarna todas estas características. Na parte da técnica, a carpintaria italiana produz há séculos obras de arte e artesanato que povoam as residências mais importantes de toda a Europa. Esse know-how, de geração em geração, mudou de pai para filho, da oficina para a fábrica, até os dias atuais, onde a excelência dos processos industriais é enriquecida pelo conhecimento antigo. Os processos, materiais, formas, projetos mudam; qualidade, competência, paixão e criatividade não mudam. Um mobiliário de design italiano não é reconhecido pelo tipo de decoração ou pela escolha de cores ou materiais: é impossível defini-lo em alguns elementos. O design italiano o reconhece pela atenção aos detalhes, pela originalidade das soluções, pelas combinações incomuns, mas pelo sabor refinado. Em comum com o Brasil algo que adoro verificar no Fuorisalone: a paixão em criar objetos que sejam únicos.

4. Como surgiu a ideia do curso de Cool Hunting e como essas informações podem ajudar a transformar a carreira de arquitetos e designers?

Dou este curso de forma presencial desde 2010, no Brasil e na Itália e uma vez ao mês na escola de Milano. Geralmente trabalho com grupos de designers, arquitetos e criativos que vinham até Milano, mas com a quarentena, as aulas foram canceladas. Aí pensei: por que não oferecer online? A adesão foi incrível: 3 dias depois da publicação do post no Instagram, preenchemos a primeira turma, com uma lista de participantes para as próximas. Estamos já na 5ª edição e segue um sucesso. E aconteceu algo bem interessante: muitos designers da área moveleira começaram a me pedir para oferecer um curso de cool hunting que fosse focado na pesquisa e análise de tendências para o setor moveleiro. Assim, em parceria com a SIQ MARKETING criamos um programa sob medida para esse público. O Cool hunting para a Industria Moveleira é fundamental: com este sistema de pesquisa e análise de tendências, podemos observar os sinais das tendências que se manifestam no presente e que vão criar futuras demandas de consumo no design e, com muita prática, conseguir prever quais as tendências que vão impactar em materiais, cores, texturas e formas para daqui a 2, 3 anos. Ou seja, o cool hunting abre uma janela de previsão a longo prazo e atuação a curto prazo para quem quer se diferenciar dos concorrentes. E sendo uma designer que vive na capital do design mundial, consigo guiar o olhar do participante para elementos que já estão se tornando relevante no seu setor, filtrando o rumor de fundo, indo direto ao ponto. Não é magia, é sociologia, antropologia, comportamento, psicologia, arte, cultura, sociedade, enfim… o mundo que nos cerca!

5. Quais os principais tópicos abordados no curso?curso cool hunter fah maioli

  • O que é Coolhunting e como se realiza 
  • Design Made in Italy: cenários e perspectivas 
  • O que são e onde encontrar as Trends e os Trendsetters no Design
  • Como surge uma Trend?
  • Como é o processo de nascimento, crescimento, difusão e morte de uma ideia inovadora?
  • Quais são e qual a importância de conhecer as Macrotrends para o Design 
  • Como Observar e Analisar o Zeitgeist que é um driver potente para o desenvolvimento de Novos Produtos 
  • Como colocar os INPUTS (observação do Zeitgeist) em OUTPUTS (Canvas, Trend Reports e Moodboards)

O curso será em português e Italiano e parte em setembro. As inscrições estão abertas e para inscrever-se basta mandar um e-mail para [email protected]. Os leitores da ForMóbile Digital, até o final de julho tem 5% de desconto, basta usar o cupom FORMOBILECOOL. 

Assista a participação de Fah Maioli no ForMóbile Talks: