No ritmo acelerado da indústria moveleira e dos mercados de arquitetura e design, produtividade e inovação costumam ocupar o centro das atenções.

No entanto, temas como saúde mental e qualidade de vida no ambiente de trabalho têm ganhado espaço — e por boas razões. A forma como as lideranças se posicionam diante desses desafios pode impactar profundamente o bem-estar das equipes, a retenção de talentos e, consequentemente, os resultados do negócio.

E a importância de abordar esse tema dentro das empresas não para por aí. Entre 2020 e 2024, o número de afastamentos de trabalhadores brasileiros por transtornos mentais aumentou aproximadamente 416%, o que reforça a gravidade da situação. Além disso, só de 2023 para 2024 esse número cresceu 68%.

O papel da gestão na saúde mental

Mas, afinal, qual é a responsabilidade dos gestores dentro desse cenário? 

“As lideranças são o ponto de partida”, enfatiza Patricia Ansarah, pioneira em segurança psicológica no Brasil. “Isso porque é com elas que o colaborador se sente mais à vontade para compartilhar o que está sentindo. Um bom líder sabe praticar escuta ativa, observar comportamentos e agir com empatia, sem julgamento”, observa.

“Dessa forma, eles precisam entender que não precisam diagnosticar ninguém, mas podem fazer orientações e encaminhar para o apoio certo”, continua Patricia.

Saúde mental no ambiente de trabalho

No entanto, é justamente o contrário disso que tem acontecido no Brasil. De acordo com uma pesquisa da Bee Touch, 57% dos trabalhadores brasileiros acreditam que seus gestores não estão preparados para lidar com saúde mental e 58% deles apresentam sintomas depressivos, destacando a gravidade da situação. 

Segundo Patricia, a intensificação desse cenário está relacionada a diferentes fatores, como sobrecarga de trabalho, lideranças despreparadas, ambientes tóxicos e falta de escuta e apoio psicológico dentro das empresas.

“O que vemos hoje é um acúmulo de demandas emocionais mal resolvidas, baixa capacidade de adaptação às mudanças constantes e pouco espaço para falar sobre sofrimento mental no ambiente corporativo. O resultado disso, sem dúvida, é o aumento dos quadros de burnout, ansiedade e depressão, que afetam diretamente o engajamento e a produtividade dos colaboradores.”

Patricia também faz um alerta para a saúde mental das mulheres que, segundo o Datafolha, possuem o dobro de chances de desenvolver depressão ou ansiedade.

E, para a especialista, o motivo dessa discrepância é que as mulheres enfrentam uma carga dupla ou até tripla de responsabilidades, que passam pela área profissional, doméstica e, muitas vezes, emocional.

“Soma-se a isso o fato de que, no ambiente de trabalho, elas lidam com um número maior de microagressões, assédio e desigualdade de tratamento. Além disso, estudos mostram que essas experiências constantes minam a autoconfiança, aumentam o nível de estresse e geram esgotamento emocional”, pontua. 

Principais pilares da segurança psicológica dentro de empresas

De acordo com Patricia, segurança psicológica se constrói com respeito, empatia e espaço para diálogo.

“É quando todos sentem que podem ser autênticos, expressar opiniões, errar e aprender sem medo”, enfatiza. “Para isso, é necessário olhar para comportamentos que, muitas vezes, passam despercebidos, como interrupções frequentes, falta de escuta ou piadas inapropriadas”.

“A microagressão começa quando o pensamento vira ação, e ela não precisa ser violenta para ser nociva”, acrescenta, destacando que, por esse motivo, é essencial trabalhar a escuta ativa, educar os colaboradores sobre emoções e promover o respeito às diferenças.

Por fim, a especialista orienta que para melhorar a saúde mental dos trabalhadores brasileiros é preciso começar preparando as lideranças e treinando os gestores para identificar comportamentos atípicos, como ausência social, mudanças de humor e queda de colaboração.

“Outro ponto importante é estimular conversas sobre emoções no dia a dia, isso ajuda emocionalmente a empresa porque a escuta ativa é fundamental”, observa Patricia. “O colaborador precisa sentir que pode falar, sem medo de retaliação”, continua, concluindo que essas medidas, apesar de parecerem simples, fazem toda a diferença.

Agora que você entendeu a importância da atuação da liderança para criar um ambiente propício para a saúde mental, conheça mais desafios e oportunidades na gestão de pessoas.