Em um cenário global cada vez mais impactado pelas mudanças climáticas e pelo crescimento acelerado dos centros urbanos, pensar em soluções sustentáveis e adaptáveis se tornou uma necessidade urgente. Nesse contexto, o design resiliente surge como uma abordagem estratégica capaz de transformar as cidades em ambientes mais seguros, humanos e preparados para enfrentar adversidades.
Mais do que uma tendência, trata-se de uma forma de projetar com foco na prevenção e na adaptação, considerando não apenas os aspectos ambientais, mas também os desafios econômicos, tecnológicos e culturais.
Design resiliente: o que é?
De acordo com a arquiteta Gabriela Rego, o papel principal desse novo conceito na criação de cidades mais sustentáveis e humanas é fazer com que os profissionais olhem para os centros urbanos considerando os problemas que já acometeram aquele espaço.
“Ao criar novos espaços ou transformar os já existentes, o design resiliente permite que soluções sejam pensadas para evitar ou mitigar os efeitos adversos desses problemas urbanos, através de resistência e adaptabilidade, com o objetivo de proteger a população e a própria cidade”, explica a especialista.
“Por esse motivo o design resiliente é muito associado à crise climática, ou seja, soluções pensadas para prevenção de danos causados por desastres ou eventos climáticos extremos”, acrescenta.
Ainda segundo Gabriela, é importante que a resiliência aplicada ao design abranja tanto a prevenção quanto a adaptação aos impactos ambientais a partir de uma análise minuciosa de cada caso.
“Em lugares que já existe um histórico de impacto ambiental, projetos que favoreçam a adaptação são mais urgentes. No entanto, acredito que o foco na prevenção deva ser mais importante, pensando no longo prazo, e nas mudanças climáticas que já estamos observando.”
Outros pontos de atenção citados por Gabriela são os aspectos culturais e sociais de cada região, que devem ser considerados na hora de desenvolver um projeto. “Esses aspectos são específicos de cada região, cidade, país. Principalmente quando pensamos em um design resiliente é necessário considerar a cultura local de onde este projeto será implantado”.
“Por isso é importante, ao tentar replicar soluções bem sucedidas de outros lugares, realizar adaptações que se adequem a sociedade que vai receber esse projeto.”
Desafios do design resiliente
Para Gabriela, o maior desafio de desenvolver projetos com base no design resiliente hoje é a viabilidade econômica, especialmente quando se tratam de soluções urbanísticas.
“O que deve ser considerado é que o custo de remediar após tragédias é muito além do custo material. Outros desafios ocorrem em relação à tecnologia disponível e a mão de obra especializada, ou ainda a resistência cultural, o que acredito que seja um dos primeiros desafios a serem superados”, acrescenta.
Já quando o assunto é projeto de design resiliente bem executado e com resultado positivo, a especialista cita o sistema “cidade esponja” da capital paranaense, Curitiba. “Esse sistema consiste na construção de uma série de parques ao redor da cidade que servem para conter e drenar água das chuvas”, explica Gabriela. “Essa é uma ótima referência considerando que na maioria das cidades brasileiras boa parte do território é impermeável por conta do asfalto, calçadas e construções, tornando-se suscetível a inundações e enchentes causadas pelas chuvas”.

Outro exemplo de Gabriela é a construção de casas elevadas do solo, comum em regiões que sofrem com alagamentos. “Essa solução é comumente associada a resiliência a inundações e enchentes, mas também é uma ótima escolha quando falamos de calor extremo”, pontua, acrescentando que esse sistema pode ser observado na aclamada Casa Farnsworth de Mies van der Rohe (imagem acima) e nas tradicionais casas elevadas de populações ribeirinhas.
Esses exemplos mostram, na prática, como o design resiliente pode fazer a diferença no dia a dia das cidades e das pessoas.
Mais do que pensar só na estética, trata-se de criar soluções que ajudem a lidar com problemas reais, como enchentes, calor extremo e falta de áreas verdes.
Assim, com criatividade, conhecimento técnico e respeito à realidade local, é possível construir espaços mais seguros, adaptáveis e preparados para o futuro.
Agora que você conheceu o design resiliente, saiba mais sobre a arquitetura sustentável.
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