O greenwashing no setor moveleiro é um erro que custa caro.
Palavras como eco, verde, natural e sustentável vêm sendo usadas com a leveza de quem joga confete. Mas, sem dados, elas não sustentam nada.
No setor de mobiliário e decoração, isso aparece em fibras “ecológicas” sem rastreabilidade, tintas supostamente “limpas”, chapas “renováveis” sem comprovação.
É um erro comum — e evitável.
Transparência: o novo idioma da construção e do design
Imagine entrar num supermercado antes do ano 2000 quando a rotulagem nutricional ainda não era obrigatória.
Você pegava um pacote bonito, cheio de promessas na frente — light, natural, saudável, zero isso, menos aquilo — mas sem qualquer informação técnica que comprovasse a história.
A escolha era baseada na embalagem, não na verdade. Agora troque o alimento pelo móvel, pela tinta, pela placa de MDF, pelo revestimento “ecológico”.
É exatamente esse momento pré 2000 que todos os setores como os materiais de construção, sistemas e equipamentos, decoração, iluminação e o moveleiro vive hoje quando o assunto é sustentabilidade.
Por que o greenwashing encontra terreno fértil no Brasil
O greenwashing se espalha no Brasil como fogo em capim seco — despretensiosamente, silenciosamente e quase sempre sem intenção maldosa.
Ele floresce porque:
- o tema ainda é vago;
- o público consumidor ainda não reconhece a importância;
- o público consumidor é imediatista;
- e a maioria ainda está condicionada a procurar o “bonitinho e mais barato”, não o verdadeiro.
É falta de conhecimento, sim. É ausência de informações claras, também.
E exatamente por isso este artigo é importante.
O greenwash ocorre quando uma empresa parece sustentável, mas não é. Quando ela usa palavras bonitas e vazias — “eco”, “verde”, “natural”, “renovável”, “limpo”, “biodegradável” — sem apresentar dados, métricas, certificações, análises ou comprovações reais.
Assim como a rotulagem nutricional do ano 2000 transformou o mercado de alimentos — obrigando transparência, números, tabelas e responsabilidade — o setor moveleiro, arquitetônico e construtivo está agora diante do mesmo divisor de águas.
A diferença? Ainda não existe um “rótulo obrigatório”.
A EPD, embora seja hoje o rótulo ambiental mais completo, transparente e reconhecido internacionalmente, ainda não é obrigatória no Brasil. Trata-se de um documento voluntário, adotado apenas por empresas que escolhem expor seus dados.
E é justamente essa ausência de obrigatoriedade que abre espaço para que o greenwash ainda se espalhe com tanta facilidade.
Não há, atualmente, nenhuma lei federal que exija a divulgação de impacto ambiental na embalagem, no catálogo ou no e-commerce de móveis, materiais ou revestimentos. E é justamente nesse silêncio regulatório que o greenwash cresce.
Mas ele pode — e deve — ser combatido com o mesmo instrumento que trouxe seriedade aos alimentos:
informação, método e transparência.

A imagem ao lado — o Rótulo de Impacto Sustentável (proposta ilustrativa da autora) — funciona como lembrete visual de tudo o que a indústria moveleira raramente explicita. O greenwashing prospera exatamente nesse silêncio: quando faltam dados, sobram promessas.
Para desmontar qualquer maquiagem ambiental, basta fazer as perguntas fundamentais:
Origem da matéria-prima
De onde vem a madeira? Há certificação? Qual
o percentual reciclado ou renovável?
Pegada energética
Quanta energia o produto consome ao longo da cadeia? De que fonte ela vem? Quais são as emissões reais de CO₂e?
Pegada hídrica
Qual o consumo de água? A empresa apresenta dados verificáveis?
Distância e logística
Quantos quilômetros esse produto percorreu? Qual o modo de transporte?
Fim de vida
O móvel é reparável, desmontável, reciclável ou biodegradável?
Durabilidade e ciclo de vida
Qual a vida útil? Há garantia? Há economia circular aplicada? Ou apenas descartabilidade disfarçada
O greenwash não sobrevive a transparência; basta luz.
A boa notícia? Estamos no limiar de uma mudança profunda. E quem entender isso agora — quem aprender a reconhecer e evitar o greenwash — vai liderar o mercado nos próximos anos.
O futuro pós-greenwashing: onde beleza e verdade finalmente se encontram
Há uma nova geração de empresas que entendeu: sustentabilidade não é verniz — é estrutura.
Felizmente no Brasil já existem algumas, mas poucas, marcas que abrem seus processos, divulgam seus números, mostram seu impacto. Que abraçam circularidade com coragem, tratam carbono como métrica e não como metáfora, e reconhecem que inovação e responsabilidade caminham lado a lado.
Essas marcas não têm medo da verdade, porque a verdade as fortalece.
E, no fim, resta o essencial: o setor moveleiro está diante de uma oportunidade histórica.
A oportunidade de transformar:
- matéria em significado,
- produtos em propósito,
- transparência em vantagem competitiva.
É aqui — no contraste entre aparência e verdade — que o setor moveleiro precisa despertar. Enquanto o greenwash espalha promessas, o mercado global já exige provas reais. O mundo mudou, e quem insiste em slogans descobre rápido que sustentabilidade não é discurso: é critério de compra e valor de mercado.
Quando a maquiagem cai, sobra o essencial — dados, rastreabilidade, transparência. A conversa deixa de ser cosmética e passa a ser sobre competitividade e sobrevivência. Aguarde a próxima edição desta coluna, que vai responder: por que a indústria moveleira precisa ser sustentável agora — e não em 2030?