A madeira é cortada, a chapa ganha forma, e a oficina vibra em harmonia com o som das máquinas.

Mas o que acontece depois que o móvel deixa a marcenaria? A resposta está em três letras que estão abrindo novos mercados e transformando o modo como o mundo enxerga produtos: EPD Environmental Product Declaration, ou Declaração Ambiental de Produto.

Assim como a Análise de Ciclo de Vida (ACV) revelou o “raio-X ambiental” do móvel, a EPD é o documento oficial que dá voz a esses números, um registro público, técnico e transparente sobre o impacto ambiental de cada produto em uma linguagem clara e reconhecida mundialmente.

EPD: de onde vem e por que surgiu

A EPD nasceu na Europa, nas décadas de 1990 e 2000, quando empresas e governos perceberam que “ser verde” não bastava — era preciso provar com dados. O objetivo era combater o greenwashing, aquelas promessas vagas de sustentabilidade que não resistem à verificação técnica.

Assim, surgiu a EPD: um certificado de transparência, baseado em normas internacionais da ISO 14025, que valida e publica informações ambientais de produtos em bases públicas e acessíveis.

Uma sequência de acontecimentos

A EPD é o passo seguinte da ACV. Primeiro, a empresa realiza a Análise de Ciclo de Vida, que calcula os impactos do produto desde a extração da matéria-prima até o descarte.

Depois, esses dados passam por três etapas:

  1. Compilação e revisão técnica, feita por um profissional qualificado;
  2. Verificação independente, garantindo conformidade com a ISO 14025;
  3. Registro público, com validade de cinco anos, revisável e auditável.
Imagem: O caminho do passaporte verde e do produto com EPD
Fonte: Desenho Ana Luisa Quaresma

Os dois primeiros blocos — o estudo de ACV e a verificação — costumam representar a maior parte do investimento, pois exigem horas de trabalho técnico especializado e validação independente.

No Brasil, instituições como a Fundação Vanzolini e o IBICT são responsáveis pela verificação e registro. O resultado é uma ficha ambiental oficial, publicada em plataformas abertas, que se torna o “passaporte verde” do produto.

Onde a declaração é exigida — e por quem

A EPD já é um requisito crescente em obras corporativas, varejo sustentável, construção civil e mobiliário de alto padrão.

Cerrtificações ambientais como LEED, BREEAM e AQUA-HQE utilizam EPDs para comprovar o desempenho de produtos.

E, para quem exporta, União Europeia, Escandinávia e Reino Unido já tratam a EPD como documento básico de entrada em seus mercados.

Oportunidade para o setor moveleiro

Para o marceneiro e o industrial, conhecer a EPD pode parecer distante — mas, na prática, ela é o elo que conecta a oficina artesanal ao mercado global.

Quem se prepara agora estará pronto para licitações públicas, parcerias com arquitetos conscientes e exportações, certificações e parcerias internacionais. É entender a nova linguagem dos negócios sustentáveis.

Mais que um selo, a EPD comunica confiança: mostra que a empresa domina seus processos, evita greenwashing e sabe provar o valor ambiental de cada peça.

Uma história em continuidade

Se a ACV foi o “raio-X poético da marcenaria”, a EPD é o retrato público dessa jornada — a prova documental de que sustentabilidade não é discurso, mas prática verificada. Cada certificado emitido representa um passo rumo a um mercado mais ético e competitivo.

No próximo capítulo desta coluna, vamos falar sobre o que é e como evitar o “Greenwashing” — entendendo a diferença entre comunicar responsabilidade e apenas parecer responsável.

Até breve! Volte na edição anterior para descobrir o que realmente é uma Análise de Ciclo de Vida.