Nas últimas décadas, as discussões e ações sobre sustentabilidade se consolidaram como um dos principais pilares do ensino em arquitetura e design. Nesse contexto, a Economia Circular surge como um novo conceito essencial para modelar futuros melhores para a produção de produtos e construção. 

Mas como as universidades estão incorporando esses conteúdos em seus currículos e preparando os profissionais para futuros mais responsáveis e regenerativos?

É interessante ter acompanhado o mercado e a educação nas últimas duas décadas e poder colaborar com a discussão de temas importantes que vêm transformando a realidade e apresentando melhores alternativas para as novas gerações. Desde já, precisamos entender que nada é imediato — tudo tem seu tempo de criação, discussão, testes, implementação, assimilação pelo mercado e, só então, saberemos se terá sucesso ou não. Por isso, costumo dizer que o design não cria soluções, mas sim alternativas que a sociedade e o tempo decidirão se são boas soluções.

Nas universidades não é diferente. Os cursos de arquitetura e design dependem de programas pré-estabelecidos, exigências ministeriais, orientações da própria universidade, coordenação do curso, corpo docente e interesse dos estudantes. Muitas variáveis que, quando bem combinadas, promovem as mudanças necessárias para que cada geração de alunos consigam desenvolver, durante seu período universitário, projetos que atendam aos reais problemas da sociedade, sempre pensando na construção de futuros melhores.

Particularmente no design, temos um elemento ainda mais interessante: a fabricação digital, que abre novas áreas de atuação para projetar, já que não precisamos mais pensar apenas na produção “industrial”. Por outro lado, na arquitetura, a construção sempre foi um processo muito artesanal, mas hoje já é possível pensá-la de forma industrializada — e há espaço até para discutir a fabricação de casas por impressoras 3D.

Numa sociedade em que eficiência, produção em larga escala e exigências de mercado para obter lucro são o grande desafio, o tempo universitário é essencial — é quando temos tempo para pensar e discutir as questões da sociedade, o sistema no qual estamos inseridos, o hiperconsumo, como queremos viver e o que desejamos para o futuro.

Outra grande mudança e conquista no ensino universitário é a ampliação das fontes para discutir e construir novas ideias. Tradicionalmente, seguimos modelos eurocêntricos. Hoje, podemos afirmar que buscamos referências mais amplas e diversas, incluindo mais pontos de vista, como os de lideranças e cosmovisões indígenas, que muitas vezes fazem mais sentido na busca por novos modelos do que processos contemporâneos ou modelos industriais.

Um bom exemplo disso é a seção “Academy” do Movimento Circular, que reúne materiais para conhecer e se aprofundar na Economia Circular.

Este é um excelente momento para propor mudanças a partir dos espaços universitários — e isso já está acontecendo, em maior ou menor grau, nas diferentes universidades da América Latina, com a criação de grupos de discussão, realização de eventos para apresentar os projetos realizados pelos alunos, e a construção de plataformas para divulgar tudo isso digitalmente.

O que pode ser feito?

  • Incentivo à colaboração entre diferentes áreas do conhecimento, como engenharias, gestão e design;
  • Desenvolvimento de competências transversais, como pensamento sistêmico, análise de sistemas complexos, e compreensão dos impactos ambientais, sociais e econômicos em todas as decisões de projeto;
  • Estudos de caso: apresentar exemplos de projetos e iniciativas de universidades e do mercado que promovem a Economia Circular;
  • Entrevistas com especialistas: complementar o conhecimento com perspectivas de professores, pesquisadores e profissionais da área;
  • Discussão sobre materiais e tecnologias: explorar o uso de materiais mais sustentáveis, regenerativos e tecnologias inovadoras na arquitetura e no design;
  • Estímulo à colaboração entre universidades, empresas e outras instituições na promoção da Economia Circular.

E para as universidades que desejam incorporar ou reforçar os princípios da Economia Circular em seus cursos, recomendamos:

  • Incluir módulos específicos de design circular: projetar com foco no planeta, utilizando biomateriais, durabilidade, reparabilidade, reuso e reciclagem;
  • Integrar os princípios da Economia Circular em projetos, atividades práticas e teóricas, desafiando os(as) alunos(as) a criar soluções circulares para problemas reais;
  • Realizar oficinas de experimentação com materiais e processos mais sustentáveis e regenerativos;
  • Criar laboratórios de desenvolvimento e prototipagem junto a empresas e organizações que atuam na área;
  • Promover eventos em que o tema da Economia Circular seja transversal a todos os cursos.